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Querela

O transístor emite as maçãs dos pomares pendurados na torre Eiffel
Quando o espelho arroxeia, são como punhais as escarpas dos dedos
E tu resistes; o relógio bate mais como se lá estivesse para te ditar o fim
Acabas submerso nos seios de uma lua salina e o mundo parece desabar
O dia cai, escurece, uma gaivota chove mas a ave contracena só consigo
E meditas dobrada sob a sua madeira, e no regaço uma corda de joelhos
E contemplar os sinos é onde se perdem os pés e se diluem os ombros
Não queres resgatar a vista dispersa dentro de ti numa pilha de lenha
O silêncio é visceral, imponente, corrente de selos, no fundo ardemos
A tua noite escama, o dia foge da tua porta e a chuva, chove muito
Mas, tu podes sair dessa tela e libertar a ave, por quem esperas
Meu amor, ninguém finge mas é um absurdo motivar o abandono


Querela, 2010, In Vestidos De Regadio, 2014, Alberto Moreira Ferreira